Tuesday, April 11, 2006

Mods de ser ou não ser, eles aí estão






Acordei Mod algures no começo de 2006?
Depois da militância punk e pós-punk na década de oitenta eis-me a entrar na última década do século XX, tudo ou quase tudo estava inventado, só nos restava, o quê? Sei lá.
Adoptei um visual mais discreto, passei a ser um agente subversivo infiltrado no sistema, cortei o cabelo curto e passei a usar calças do tipo clássico, daquelas com pregas, só que as usava com ténis criando assim um estilo retro-moderno, em vez de blusões e afins escolhi as parkas pois permitiam liberdade de movimento e tinham um corte interessante, as t-shirts e as camisolas mais justas do que largas. Cores? Sim, colorido se faz favor, já chegava de preto durante anos. Para uma sociedade cinzenta a cor era uma surpresa. E na segunda metade da década, o toque de mestre, o chapéu, primeiro branco, e depois definitivamente cinzento, daqueles clássicos, tipo dos gansgters de Chicago, não esquecendo que não é o chapéu que faz o homem mas o homem é que faz o chapéu, entendem?
O jazz e a música brasileira são os novos interesses, o acid jazz fez também a sua apresentação, cheguei a ir ao Hot Club durante as gravações de um documentário com uma t-shirt a dizer Acid Jazz, só para chatear os puristas, afinal o punk em mim nunca havia morrido, apenas adormecido. Ainda antes tinha acontecido a década de sessenta na minha cabeça, nasceu uma paixão pelo orgão Hammond, devorava uma cassete com os Animals de um lado e o Spencer Davis Group do outro, os vinis de bandas de garagem americana e psicadelismos correntes, filmes com a Ana Karina, filmados como a vida é, sem artifícios, verdadeira, mas com umas pitadas valentes de poesia, e vindo dos anos cinquenta o "On the Road" do Jack Kerouac como livro boleia.
Acordei Mod?

Mod? Isso pega-se?
As raízes vêm da segunda metade da década de cinquenta mas a consciencialização e afirmação foi no início da década de sessenta na Inglaterra e especialmente em Londres. Mais do que um simples movimento juvenil o Mod é uma reacção, um grito de afirmação da juventude perante a sociedade de consumo que se erguia passados anos do final da Segunda guerra. Eram jovens e trabalhavam, tinham agora algum dinheiro para gastar. Queriam ser modernos, é dessa palavra que vem o termo Mod, tal como a época a que pertenciam e ao contrário dos Rockers e Teddy Boys não ouviam rock´n´roll cinquentista mas sim musica predominantemente de negros tal como o jazz, soul, rhythm & blues, ska jamaicano e rock de bandas brancas inglesas como os The Who, The Kinks ou Small Faces, nomes como David Bowie e Rod Stewart foram Mods naquela época e mesmo os Rolling Stones alinharam na euforia estética e musical da Swinging London. Eram os ventos da mudança, e para apanhar a rajada eles adoptaram as motas mais manobráveis e também mais baratas que um automóvel, as scooters, da marca Vespa ou Lambretta, mais uma vez ao contrário dos Rockers que usavam as Triumph ou Norton. Para os Mods, os Rockers com os seus blusões de cabedal e jeans e aspecto mais sujo estavam ultrapassados, presos no passado, os Mods usavam fatos completos, o cabelo curto, alguns chapéus, parkas militares, sapatos bicudos, um visual mais arejado, mais cuidado, mais internacional. Havia imensas raparigas, correspondendo à emancipação feminina da época. Depois era a loucura, dançar sem parar nas discotecas, anfetaminas e lutas com os rockers para animar.
Facilmente percebe-se que apesar de ser um fenómeno muito inglês as influências eram exteriores, tais como as motas e alguma moda italiana, muita coisa do universo jazzistico norte-americano sem falar dos outros géneros musicais como o soul da Motown e os escritores da Beat Generation, da antiga colónia inglesa, a Jamaica, mais algumas coisas, mesmo porque muitos pioneiros Mods eram jovens judeus da classe média-baixa que dividiam os bairros de Londres com os imigrantes jamaicanos, e da França o cinema Nouvelle Vague e a literatura existencialista.
Para o final da década e com o aparecimento dos hippies eles começam lentamente a desaparecer, alguns integraram-se ao sistema, outros viraram hippies, outros, aqueles mais revoltados, deram origem aos skinheads, com um visual mais proletário e ouvindo especialmente ska e as primeiras formas do reggae ainda em formação.
No final da década de setenta e atrelado ao aparecimento do Punk houve um revivalismo Mod, afinal ambos eram enérgicos, ameaçadores, e vieram ameaçar o tédio reinante cada qual à sua maneira e na sua época, e os maiores representantes nessa época foram os The Jam daquele que é considerado um modelo Mod anos setenta-oitenta, Paul Weller. Se na década de setenta o filme representativo foi o Quadrophenia com música dos The Who, nos anos 80 foi "Absolute Beginners" baseado no livro do mesmo nome de Colin McInnes e com música de David Bowie. Mas o revival foi um fenómeno mais musical, faltava o conteúdo cultural de outrora.
O espírito e a estética não morreram ao longo dos tempos, tivemos umas nuances com o brit pop, especialmente os Blur e os Ocean Colour Scene, com o estilo e sonoridade do acid jazz, e actualmente nos The Hives, Internacional Noise Conspiracy ou Hot Hot Heat. A lista continua.

Mod. Snob? Elegante.
Convencidos? Autoconfiantes.
Pose sim, mas com atitude, estilo e loucura no combate ao cinzentismo que assola o país, o mundo. Rebeldes com uma causa. Atropele-se a injustiça com uma Vespa ou Lambretta.
O futuro enfrenta-se de frente, no presente.
Dançar, dançar, dançar, não ficar encostado ao balcão do bar.
Revivalista e contemporâneo.
Acordaremos Mod e acordaremos a cidade em 2006.
MODS, GO !!!


Texto: O Rapaz do chapéu.
leoneljesus@hotmail.com